Quando acaba o desejo

 

 No casamento, é comum que a atração sexual  diminua com o tempo. Alguns casais não se incomodam com isso e continuam vivendo felizes, mesmo sem sexo, ou liberam-se para experimentar casos extraconjugais. Outros não suportam a situação e se separam. Mas também é possível recuperar o desejo perdido, com a simples mudança de atitude dos parceiros ou com a ajuda de um terapeuta. 

 

Um casamento, para ser completo, deve ter companheirismo, amor, lealdade, planos conjuntos, sexo prazeroso, ternura. A maioria começa assim, mas, algumas vezes , a atração sexual acaba.  casais se separam por isso, outros permanecem juntos, numa relação rica em amizade, cuidados, responsabilidade e compromisso,  embora sem sexo. Eles saem, têm amigos comuns, dormem na mesma cama, mas não há atração física. Em alguns casos os dois ou um deles tem vida sexual fora do casamento, às vezes de comum acordo, sem que isso prejudique o compromisso. Se estão felizes assim, tudo bem. Se não, podem tentar mudar.

É mais comum que a mulher tenha a coragem de se separar, porque é mais romântica e sente muita falta de carinho. Quando aparece outra pessoa, se apaixona, fica dividida e, se o novo amor quiser, larga tudo para ficar com ele. O homem tende a levar a situação até o limite. Em nossa cultura machista é mais fácil para ele ter um caso, ou vários, sem abrir mão da união e sem sentir culpa. Alguns acreditam mesmo que sexo não tem nada a ver com casamento – quando casam com a amante, acabam traindo-a também. Têm atração pela mulher enquanto namorada. Depois do casamento, esfriam. Isso acontece porque, uma vez casados, projetam na mulher a imagem da mãe, assim como ela projeta no homem a imagem do pai. É até comum encontrar casais que se tratam como “papai” e “mamãe”, e isso, devemos admitir, acaba com qualquer libido.

Para piorar as coisas, em nossa cultura há uma separação entre a mulher santa e pura, “para casar”, e aquela considerada “fácil”, para fazer sexo. O homem, em especial o que teve educação religiosa e aprendeu que sexo é pecado, internaliza tal divisão. Isso pode prejudicar muito a vida amorosa de um casal.

Mesmo em casos assim, no entanto, é possível reverter a situação. Se o casal sente que ainda há atração, pode tentar uma terapia de casal, ou ter uma conversa franca e experimentar ajustes que possam incentivar a libido. Para o homem que quer estimular sua mulher, sugiro que seja carinhoso, prepare uma noite romântica, convide para um jantar especial num lugar diferente e não se esqueça das preliminares, como   massagens, por exemplo. Fazer um curso de dança, uma viagem, marcar um dia da semana só para os dois, sem crianças ou amigos, também costuma dar resultados. Além disso, ele precisa despir-se do papel de pai da mulher, parar de reclamar dos gastos, de ser grosseiro ou de querer sexo sem ternura.

A mulher por seu lado, deve observar se não está dando atenção demais às crianças e às amigas, e deixando o marido de lado. Não custa nada arrumar-se para ele, evitar cobranças, fazer carinhos e, principalmente, não criticá-lo na frente dos filhos e dos amigos. Enfim, sair do papel de mãe e assumir o de amante.

Casais que não sentem falta do sexo não precisam mudar. Podem continuar a viver juntos, ser amigos, cúmplices, parceiros. Tudo bem. Mas se um ou outro está infeliz, por que não rever esse contrato? Nesses casos, vale tentar a mudança ou até pensar na separação. Se amamos realmente alguém e não conseguimos fazer esse alguém feliz, devemos lhe dar a liberdade para que encontre a felicidade. O que não é aceitável é viver na mentira, simulando um relacionamento que já acabou.

Como dar presentes

Um presente tanto pode reanimar  como destruir um relacionamento
O ritual de presentear é antigo e saudável, porém às vezes complica o entrosamento do casal. Um presente errado ou a falta dele no momento em que é esperado são situações frustrantes. Por isso mesmo, é necessário ter muito cuidado para não esquecer datas importantes e na escolha do que oferecer. Afinal de contas, nessas ocasiões, o gesto e o objeto é que falam por você.
Dar e receber presentes não são rituais apenas ligados ao comércio. Muito antes de existirem lojas, shopping centers e consumismo as pessoas trocavam presentes para comemorar datas como o fim do ano, aniversários, nascimentos e casamentos. A tradição já existia quando Jesus nasceu: como diz a Bíblia, reis magos vieram do Oriente trazendo para ele ouro, incenso e mirra. Esses presentes tinham um significado simbólico; o ouro representava a realeza, a mirra a pureza e o incenso a fé. Hoje damos outros presentes, que também possuem significados simbólicos. Mas esse simbolismo pode transformar o desejo de agradar em decepções, ressentimentos e brigas entre os casais.

Por isso, é necessário ter cuidado na hora de presentear. Se alguém espera ganhar uma joia erecebe um CD, por exemplo, fica decepcionado, pois se sente desvalorizado. Se compra um presente muito especial, esperando que o seu par retribua da mesma forma, e isso não acontece, outra decepção. Com a chegada de uma data especial, a mulher, principalmente, costuma dar dicas do que gostaria de receber. E porque deu a dica, se não ganha o que sugeriu, fica frustrada. Depois, sem coragem de dizer que não gostou do presente, queixa-se de não ser amada ou valorizada. Não é o presente que decepciona, mas seu simbolismo; neste caso, o preço, que sugere que o outro não a valorizou. Esquecer uma data importante para o casal, então, nada pior! Quem não recebe nada se sente ignorado, esquecido. Como consertar o estrago? Sem mentir, convidar o decepcionado para um passeio especial, fazer uma declaração de amor e, no dia seguinte, comprar o presente esperado.

Já ouvi no consultório várias histórias em que a prova de que se era amado era esperada na forma de um presente. Não recebê-lo significou o fim do relacionamento, que, obviamente, já não estava muito firme.

Assim, vale a pena aproveitar uma data e se preocupar em dar um presente especial, escolhido com carinho. Quem dá um presente está dizendo algo a quem recebe. “Eu gosto de você”; “Você é muito valioso”; ou apenas “Quero te agradar”. Depois de uma briga, um presente pode significar “Me perdoe”. Oferecido quando o outro está triste ou carente, tem o valor de um “Eu te amo”. O gesto vale mais que as palavras.

Mais que isso, pois além da mensagem há o simbolismo do objeto. Dar um anel representa o desejo de se unir, é uma pequena algema. Se uma mulher ganha do marido uma lingerie, sabe o que significa; se ganha um fogão, também. Um presente feito a mão, por sua vez, simboliza um cuidado e um carinho que um objeto comprado não tem. Tricotar uma blusa ou cachecol, pintar um quadro, fazer um bolo, embora não seja caro, resulta nos presentes mais valiosos que existem, pois foram feitos com amor.

É fato que o comércio se aproveita da força do símbolo para vender, mas não foi isso que motivou a alegria de dar e receber presentes. Mesmo que não se ganhasse dinheiro com isso, as pessoas continuariam dando presentes, pois são expressões do que sentem.

Não vivemos sem os rituais, e se eles não fossem necessários para nosso crescimento psíquico não resistiriam por séculos. Então, eu diria aos casais que aproveitem esse recurso e os momentos apropriados para reafirmar ou reparar e acrescentar mais carinho e amor a suas relações.

 

Violência nas relações começa com submissão

Vítima de violência nas relações em geral não percebe que corre perigo
A violência nas relações amorosas ocorre em todas as classes sociais, freqüentemente depois de uma separação. Todos podem ser violentos, claro, mas em cerca de 98% dos casos a agressão parte dos homens. Infelizmente, as vítimas não percebem que correm perigo, mas tudo que acontece em geral vinha se anunciando por meio de ameaças e de comportamentos agressivos.
A tragédia que envolveu a jovem Eloá, em Santo André (SP), trouxe à tona mais uma vez a violência nas relações amorosas. Infelizmente, ela ocorre em todas as classes sociais, na maioria das vezes após uma separação. No caso, foi Eloá quem deu fim à união e seu namorado, ao que parece um psicopata, reagiu torturando-a e matando. Os psicopatas não sentem culpa nem remorso. São frios e planejam seus crimes. Sempre acham até o fim que agiram certo, que a vítima merecia morrer.

Mas não são só crimes ou agressões físicas que caracterizam a violência nas relações. A violência verbal e a violência psicológica também destoem a auto-estima, a segurança e o equilíbrio psíquico do parceiro.

A agressão física parte dos homens em 98% dos casos. Quando ocorre um crime, em geral já vinha se anunciando por ameaças e comportamentos agressivos. O agressor sempre culpa o outro por precisar agir assim. Mas a vítima parece que não acredita que corre perigo, porque o agressor muda a toda hora e a trata bem na frente dos outros.

A violência é um processo que começa com a submissão da vítima. No namoro, parceiros vivem uma fase de paixão e de sedução. Logo depois, porém, o homem violento começa a fazer exigências descabidas, que vão minando a confiança da mulher. Diz frases como “Você é burra”, “Você tem de deixar seu emprego” e “Você não deve estudar”. A mulher, muitas vezes envolvida, acaba ficando em dúvida. Passa a acreditar que é inferior e se submete aos desejos do parceiro. E mais: de tanto ouvi-lo dizer que os amigos a invejam, se afasta deles. Depois a proíbe de ver a família, de se vestir como quer, de sair de casa. Vai desqualificando e dominando a mulher, a ponto de não ser capaz de reagir. Não se trata de masoquismo ou de querer sofrer, é uma espécie de condicionamento, de incapacidade de reação.

Já a mulher violenta normalmente é o que se chama de borderline. Essa palavra identifica alguém não propriamente louco, mas que não tem nenhuma estrutura psíquica. Não agüenta frustrações, é egoísta e sempre culpa os outros por seus problemas. Muitas vezes usa drogas e ameaça o parceiro dizendo que vai abandonar a casa e/ou os filhos ou se matar. Esse tipo de violência paralisa o outro, que não consegue superá-lo, porque, além da tensão de viver com a ameaça, se julga culpado pela infelicidade da parceira.

Mas como deve agir quem convive com um parceiro violento? O começo de tudo é admitir que a violência existe. Infelizmente, a maioria das mulheres não percebe a violência psicológica, só a física. Eu pergunto: se você tivesse o mesmo comportamento de seu namorado ou marido, o que ele faria? Devemos mostrar para a mulher que esses comportamentos não são normais. Também é importante esclarecer que ela não é culpada pelo que ocorre. Ele diz que é culpada, mas não deve aceitar. Precisa deixar claro que as agressões são inaceitáveis e colocar um limite logo nas primeiras manifestações. Quando ela diz que não aceita, fortalece-se e se valoriza. Mesmo que ame o namorado ou o marido, pode perceber quanto essa relação a prejudica. Quem ama não aceita tudo; ao contrário, ajudar o outro a mudar e estabelecer limites também são provas de amor.

Diz-se que “quem ama não mata”. Quem ama mata sim, como vimos em Santo André. Um ex-namorado rejeitado, para não perder o objeto de seu amor doentio, preferiu matá-lo.

 

Mulheres pedem mais a separação

 

As estatísticas mostram que normalmente a mulher pede mais a separação. Ela é romântica e estrutura sua vida no casamento. Assim, se o amor acabou ou é traída, separa-se. Já o homem se sente desamparado quando está só e valoriza mais o aspecto profissional. Se está descontente no amor, é capaz de buscar amante e manter essa situação indefinidamente.

De acordo com informações da Fundação IBGE publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, de 102.503 separações judiciais em 2005, cerca de 17.000 foram pedidas por mulheres e só 6.000 pelos homens. Isso se deve ao fato de que, em geral, elas perdem menos do que os homens. Ficam com a casa, os filhos recebem pensão e normalmente são tratadas como vítimas.
As mulheres não se separam, na maioria dos casos, porque têm outro homem. Separam-se porque o casamento perdeu o romantismo e o encanto, o amor acabou, ainda têm a fantasia de viver um grande amor ou o marido as traiu — este último, aliás, é o principal motivo. A mulher monta sua estrutura de vida com base no casamento, deposita todas as suas expectativas na união estável. Ela aprende isso desde pequena. A profissão, claro, é importante, mas o marido, os filhos e o lar têm prioridade em sua vida. Sua verdadeira realização está em ser mulher e mãe. Seu foco principal é a vida afetiva. Ela é a responsável pelo aspecto emocional do casamento. Se não vai bem, sua vida se desmorona. Assim, prefere romper com o parceiro e partir em busca do sonho que não conseguiu realizar. Para a mulher, na hora em que o amor acaba é difícil continuar vivendo com alguém.
Ter uma relação afetiva fora do casamento também é mais complicado para ela, pois dificilmente consegue separar a sexualidade da afetividade. Quando conhece alguém, de início até pode encarar como passa-tempo, mas acaba se apaixonando. Parece ser da própria biologia feminina, já que o sexo pode significar filhos, que são responsabilidade dela na maioria dos casos. Muitas vezes, após uma separação, passado o período de luto e dor, a mulher vive uma fase de evolução. Descobre forças onde nem imaginava que tinha; assim, lança mão de sua criatividade e cresce pessoal e profissionalmente. Ela se cuida, fica mais bonita e, pois, pronta mais uma vez para tentar ser feliz de novo.
Já os homens, se precisam sair de casa e morar sozinhos, ficam sem a estrutura do lar que geralmente é gerido pela mulher, perdem o convívio diário com os filhos e ficam mais desamparados. Por isso, normalmente continuam casados mesmo se a relação é insatisfatória. Planos e projetos masculinos estão mais ligados à vida profissional. Os homens se realizam no trabalho, com o dinheiro que ganham para a família e o sucesso. Seu foco principal é a profissão; por isso, conseguem levar adiante um casamento que não vai bem. Se a atração sexual acaba, arranjam amante, pois separam mais facilmente a vida afetiva da sexual. Apesar de amarem a mulher e a mãe de seus filhos, são capazes de levar uma vida sexual satisfatória fora do casamento e, desse modo, vão equilibrando a união sem precisar separar-se. Dificilmente um homem pede a separação se não tiver outra mulher pela qual já se apaixonou e com quem pretenda se casar.
Como a mulher é a responsável pelo aspecto afetivo do casamento e pela relação com a família, é ela na maioria das vezes quem vai romper a união. Se se acomoda e fica casada por outros interesses, não por amor, o casal pode viver junto a vida toda, num acordo mútuo, sem grandes atritos.
Há homens, naturalmente, que se separam pois não agüentam viver uma relação que já terminou, mas não abandonam a família nem os filhos. Também há mulheres que traem o marido, pelo fato de não conseguirem ou não quererem enfrentar dificuldades e sacrifícios que uma separação impõe. Não querem perder as vantagens do casamento mesmo quando sabem que o amor acabou. Isso não diminui o valor das mulheres corajosas, que, quando sentem que é preferível viver sozinhas do que com alguém que já não amam ou por quem não se sentem amadas, tomam a decisão de se separar. Enfrentam muitas dificuldades. Muitas vezes vão ficar em dúvida se não teria sido melhor agüentar a situação caladas, já que, sozinhas, a vida normalmente é dura. Mas sabem que nada é mais valioso do que a felicidade de se sentirem verdadeiras, dignas e em paz consigo mesmas.

 

 

 

Chantagem no Amor

 

Seu amor é chantagista? Pois você pode estar colaborando para isso

 

A chantagem emocional é comum até entre casais que se amam. Existem pessoas que se utilizam dela intencionalmente, claro. Mas muitas vezes o chantagista não tem consciência de que manipula o parceiro. Este, por medo de contrariá-lo, acaba cedendo e, desse modo, lhe dá carta branca para agir sempre da mesma maneira quando deseja alguma coisa.

 

A chantagem emocional é definida pelo dicionário Houaiss como atitude ou dito com segundas intenções cujo objetivo é atingir alguém afetiva e/ou emocionalmente para alcançar o que se deseja. Ela é comum no dia-a-dia de muitos casais, até mesmo daqueles que pelo menos teoricamente se amam.
Claro que há quem se utilize da chantagem emocional de maneira intencional, premeditada. Mas muitas vezes o chantagista não tem consciência de que manipula o companheiro. É sua forma de agir e ela acaba se tornando habitual.
Mas o chantageado também é responsável pela forma como o outro se comporta. Muitas vezes ele não tem coragem de enfrentá-lo. Cede por medo ou por culpa e, assim, sem querer, o estimula a continuar agindo de tal forma. Por isso o chantagista em geral não muda seu modo de ser; afinal, se consegue o que quer, para que mudar? O chantageado, naturalmente, é quem deve mudar.
Os métodos utilizados pelo chantagista podem ser: retirar o amor ou a atenção; ignorar o outro; ficar vários dias sem falar com ele; ter ataques de raiva a toda hora; não querer sexo; usar de agressões físicas, até bater em filhos; e, quando o casal não mora juntos pode simplesmente desaparecer ou ficar sem telefonar.
Em geral o chantagista é mais egoísta e mimado e o outro, mais generoso e responsável. Mas como saber o que é ou não chantagem ou se ambos são mesmo egoístas e insensíveis? O adepto da chantagem se queixa muito e sofre quando é contrariado. Se o parceiro resolve separar-se, por exemplo, ele diz: “Se você me deixar, vai ficar sem nada. Eu vou tirar seus filhos”. Outra frase comum aos chantagistas: “Se você se separar de mim, vai acabar com a minha vida”. Quando a mulher que sempre foi dona de casa resolve trabalhar fora e o marido é um chantagista, com certeza ouvirá: “Se você fizer isso, vai prejudicar as crianças”.
No momento em que um dos dois quer carinho, se insinua sexualmente, e o outro não quer, pode dizer com delicadeza que não é o que deseja naquele instante e o rejeitado deve se conformar. Se provocar uma briga por isso, ou ficar emburrado, claro que está chantageando. Se o parceiro faz o que o outro pretende, dá-se uma trégua, mas quando precisar vai usar de novo o recurso que funcionou.
Em geral o chantagista não tem atitudes sensatas. Também não sabe ser prático e direto. Ele se coloca no centro de tudo e, assim, jamais expressa consideração pelos sentimentos e desejos do outro. É incapaz de pronunciar frases positivas como estas: “Não quero me separar porque amo você, vamos tentar mais um pouco”. Ou: “Se você quer trabalhar, então vamos combinar um jeito de não prejudicar as crianças”. Ou ainda: “Vou ficar triste se nos separarmos, mas é sua escolha”.
Todo casal deve estabelecer seus limites e mostrar que há algumas coisas que não são aceitáveis. Não se pode ceder por medo, por exemplo. Quando há um impasse, o ideal é que os dois conversem sobre a crise, um perceba os sentimentos do outro e aceite que é responsável pelo que ocorre. Sem ameaças ou punições. Quando ocorre uma traição, por exemplo, e passada a tempestade o parceiro decide perdoar, porque considera a união importante, pode até se mostrar triste por algum tempo, mas não deve ficar o tempo todo acusando o parceiro, lembrando o que ocorreu e dizendo que perdeu a confiança. Se perdoou, deve pôr um ponto final na história, não fazer chantagem, se aproveitando do fato para agredir.
O mais importante é a pessoa ser flexível, não ter uma única opinião, não se considerar dona da verdade, perceber que talvez o outro tenha razão, se interessar pelos motivos dele. Quem ama de verdade está disposto a entender e até a mudar para agradar seu amor. Mas para tudo há limite.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ntagista

Se o seu bem é o seu mal

 

Por que uma mulher bem educada, em boa situação profissional, escolhe um homem agressivo ou infiel? É bem possível que a opção reflita aspectos de sua personalidade reprimidos em uma parte do inconsciente que a psicologia analítica chama de sombra. Ter certa lucidez sobre o que nos motiva ajuda a construir ligações mais equilibradas e felizes.

Porque algumas pessoas inteligentes e, supõe-se, saudáveis emocionalmente, insistem em eleger os piores parceiros? Há quem se relacione com dependentes químicos ( álcool, drogas), infiéis contumazes, gente agressiva ou aproveitadora. Entre alguém sério, fiel, e outro sedutor ou até mau caráter, dão preferência ao segundo. O problema não se localiza no parceiro ou na parceira errados, mas na pessoa que insiste em ligações frustrantes. De acordo com o psicólogo suíço Carl Jung (1875-1961), possuímos um lado consciente e outro inconsciente, desconhecido. A uma parte do inconsciente deu o nome de sombra. Aí se abrigam, em função de um ideal de ego — devemos ser perfeitos, altruístas, bons — os aspectos negativos da personalidade. Contudo, mesquinharia e maldade são próprios do ser humano. Por isso reprimimos a nossa agressividade, a inveja e a maldade, que se alojam em nossa sombra. Quando menos esperamos, mas sempre nos momentos de fraqueza psicológica ou de grande tensão, a sombra aparece e nos ataca. Perdemos o controle e agimos com raiva e hostilidade, o que não combina com nossas maneiras. Ficamos como que possuídos; de fato, é nossa sombra que nos possui. Por exemplo, uma jovem se casa e todos a consideram calma e delicada. Um dia, em um acesso de ciúmes, bate no marido e diz o que nem ela se imaginava capaz de dizer.
A sombra, ressalve-se, tem também aspectos positivos:reprimidos. Um exemplo é a criatividade, refreada para a pessoa ajustar-se à rotina, à escola, ao trabalho. Pode-se dizer que um homem de talento artístico, esgotado pelo trabalho, ficou com a criatividade na sombra.
De outro lado, como projetamos tudo o que é inconsciente, atribuímos ao outro os aspectos da nossa sombra. Isso talvez ajude a explicar as escolhas negativas. Por exemplo, se uma pessoa muito doce e delicada escolhe um parceiro de mau caráter, agressivo ou infiel sentimos pena dela. É tão boa e abnegada tendo que conviver com tamanho monstro. Mas é provável que as relações sejam complementares: o outro corresponde a um aspecto dela, que reprime a sua agressividade ou a vontade de ser infiel; vive, assim, seus aspectos negativos através do outro, e talvez considere justificado se tornar infiel também, em especial se o parceiro ficar fraco ou doente. No conto de fadas Barba Azul, a heroína se casa com o assassino apesar de saber que todas as suas mulheres anteriores desapareceram. Existe uma atração por esse lado sombrio, negativo, representado por um homem poderoso.
Quanto mais claro e brilhante um aspecto da pessoa — é mansa, controlada — mais forte a sombra agressiva; o oposto, uma pessoa agressiva, descontrolada, pode ter suavidade na sombra, que emerge em momentos de tensão. Quando chora no cinema, por exemplo.
Na paixão idealizamos o outro, que deve corresponder a uma imagem interna que nele projetamos. A interna traz também nossos aspectos negativos, sombrios. Com a proximidade deixamos de idealizar e aspectos negativos aparecem, os da pessoa escolhida e os nossos. E ambos nos tornamos o que verdadeiramente somos. O filme de.Roman Polanski (72), Lua de Fel, é um exemplo de paixão que se torna ritual de humilhação — a história descreve uma relação sado-masoquista.
Essa é uma das maneiras de se tentar explicar o paradoxo: por que sempre queremos o mais difícil, e o impossível nos atrai tanto. O que nos atrai é o diferente, o desconhecido no qual podemos projetar e idealizar nossos desejos. A canção Meu bem, Meu Mal, de Caetano Veloso (63), o expressa: “Onde o que eu sou se afoga/ meu fumo minha ioga/ você é minha droga/ paixão e carnaval /meu zen, meu bem, meu mal.”
Para evitar escolhas erradas, é importante ter consciência o que nos motiva. A maior lucidez permite que não se siga uma paixão às cegas. E que, ao assumir uma ligação, se consiga equilibrar os aspe tos positivos e negativos de um e de outro.

 

O mistério das escolhas amorosas

Quando somos pequenos, os pais nos levam a criar figuras internas de homens e mulheres que motivarão, em boa parte, a atração que sentimos por alguém. As imagens nascem, de início, do tipo de relação que temos com a mãe. Isso talvez explique por que há homens que se casam com tiranas. Mas não basta para entender, pois em amor nada é garantido.
O belo poema Amor, de Carlos Drummond de Andrade (1902 1987)), toca na incógnita da atração que sentimos por uma determinada pessoa, enquanto outra, talvez muito interessante, nada nos desperta. O poeta escreve: “São dois em um: amor sublime selo/ que à vida imprime cor, graça e sentido./ O ser busca outro ser, e ao conhecê-lo,/ acha a razão de ser já dividido.”
Um poeta tem grande sensibilidade para falar de amor. A psicologia, embora de outra maneira, também é sensível ao assunto, e utiliza-se da análise para perceber o que motiva as escolhas amorosas. De início convém observar que apaixonar-se, ter um par, um companheiro é desejo quase unânime. Poucos querem ficar sós. Mesmo antes da adolescência, na puberdade, crianças já buscam namoradinhos; paqueram brincando. Não ser escolhido, ser rejeitado é o pavor de todos.
Mas não se limita a um belo corpo, roupas de grife, ser esportista ou intelectual, o que vai determinar se uma pessoa é mais ou menos atraente. Existem fatores internos, emoções, sentimentos e os famosos complexos, com maior poder sobre essas escolhas do que podemos sequer pensar.
Carl Gustav Jung ( 1875 -1961), renomado psiquiatra suíço, disse que somos todos psicologicamente andróginos. Muitas tradições e mitos trazem a idéia de que o homem original era masculino e feminino. Eva foi criada a partir de uma costela de Adão, que portanto já trazia o feminino dentro de si.
O filósofo grego Platão ( 427-347 A. C) nos conta um mito no qual se diz que os seres originais eram redondos, com quatro braços, quatro pernas e duas faces. Esses seres eram maravilhosos e completos. Os deuses, invejosos, os cortaram em duas metades, a masculina e a feminina. Desde então as metades ficam se procurando; quando se encontram têm um sentimento tão grande de união, de completude, que não querem separar-se nunca mais. E temoem que os deuses, novamente com inveja, os separem.
Para Jung , todo homem tem um lado feminino interno que ele chamou de anima (alma em latim); e toda mulher tem um lado interno masculino, animus (espírito). A anima e o animus. segundo o psiquiatra, é que se responsabilizam pela atração que sentimos por uma pessoa determinada. São figuras internas, fundamentais para realizarmos nossas escolhas amorosas. Elas se formam em nossa imaginação, primeiramente nas relações com a mãe; depois, com o pai, parentes, professoras, amigos. Nossa imagem interna será projetada no parceiro. Se encontramos alguém que se parece com nossa figura interna, temos a tendência de sentir atração por ela. Por isso é tão importante o relacionamento da criança com os pais.
Neste artigo comentarei apenas a relação mãe-filho.
* A mãe tem de ser bastante boa, acolhedora, amorosa, para que o filho se sinta amado, valorizado. O pequeno interpreta assim o comportamento materno: “Se minha mãe me ama, é porque sou bom, bonito”. A auto-estima se forma a partir desse contato. Se a mãe for negativa, destruidora ou agressiva, a criança vai achar de si mesma que não é suficientemente boa.
* Um menino que foi abandonado pela mãe formará uma imagem interna feminina negativa e terá a tendência de se apaixonar por pessoas que o rejeitam, traem ou agridem, repetindo o modelo inicial de sua vida.
* Se a mãe exagerar nos cuidados e mimá-lo em excesso, também poderá causar males. O filho ficará preso a ela, sem coragem de enfrentar o mundo; e, o que é pior, lhe faltará capacidade de amar. Nenhuma mulher poderá competir com a mãe perfeita. Provavelmente será machista, inseguro e imaturo.
Depois de tudo isso, é preciso destacar o seguinte: não há garantia nenhuma em questões amorosas, mesmo que a mãe tenha sido ótima. Mas o carinho e o bom senso nas relações com os filhos ajudarão a formar pessoas saudáveis que terão capacidade de se relacionar de maneira digna e amorosa com o parceiro. Para voltar a Drummond: “Amor, sublime selo, que à vida imprime cor, graça e sentido.”

 

 

 

Críticas e cobranças não mudam o parceiro…

Um casal não precisa concordar em tudo, nem ficar junto todo o tempo. Interesses diferentes devem ser respeitados e até incentivados, pois enriquecem a relação. Quando um parceiro insiste em transformar o outro, pressionando-o com freqüência, acaba por deixá-lo tenso e desconfortável. Afinal, queremos ser amados como somos.
Ninguém é perfeito, por isso é fácil criticarmos nossos parceiros. Um atraso, um pouco de sal a mais na comida, o esquecimento de alguma coisa que precisava ser comprada, querer muito ou pouco sexo, ser bagunceiro ou arrumado demais, tudo é motivo para reclamarmos e exigirmos mudanças. No fundo, queremos moldá-los ao nosso próprio jeito de ser. Mas é bom refletir um pouco sobre até que ponto isso pode funcionar.
Claro que quanto mais parecido for o casal, menos pontos de atrito terá. Mas muitos parceiros têm gostos diferentes e, aí, sua única alternativa de entendimento é aprender a fazer concessões.
Temos um ideal romântico do casamento pelo qual imaginamos os casais juntinhos o tempo todo. Pensamos que casar ou ter alguém é uma forma de preencher nossas carências, nosso medo da solidão. Mas as pessoas têm necessidades diversas e muitas vezes precisam, ,ficar sós. Aí é que começa a confusão. Alguns parceiros se ressentem se o outro reivindica um tempo apenas para si. Ficam desesperados e cobram a sua presença. Tal comportamento mostra insegurança e medo de perder, e em vez de atrair, prender, provoca o efeito oposto: a pressão afasta a pessoa, que se cansa de ser cobrada. Há, no limite, quem chegue a proibir o parceiro de se dedicar a uma vocação ou hobby. Exige que faça uma opção: “Ou o balé ou eu”. No fundo, o temor é de que o ser amado, ao se apaixonar por um projeto ou desenvolver-se profissionalmente, passe a desprezá-lo ou desprezá-la.
No filme Mentiras Sinceras, do diretor Julian Fellowes (57), o marido pergunta à mulher por que o traiu. A conversa é mais ou menos assim: “Sou por acaso cruel, descortês, ou ele é melhor do que eu? É mais bonito, mais rico, um amante mais eficiente?”, ele pergunta. Ao que a mulher responde: “Não é nada disso. É só porque é mais tranqüilo estar com ele. Não exige nada de mim, além do amor.” O marido retruca: “E isso é bom?” A mulher responde: “Você é cheio de critérios, de certezas. Eu sempre o desaponto. Vivo tensa, com medo de fazer alguma coisa errada”.
As exigências, as tentativas de mudar o parceiro ou a parceira por intermédio de críticas têm o efeito oposto. No mesmo filme, o marido ainda pergunta: “Você me disse que não iria mais vê-lo, mas foi. Por quê?” E a mulher diz: “Eu estava mentindo. Você exigiu que eu respondesse o que você pretendia e eu respondi.”
Quando estamos com alguém que nos recrimina, nos critica e diz a todo momento que estamos errados, nosso corpo entra em tensão. Ao contrário, carinho e elogios têm o poder de nos relaxar, dão vontade de chegar perto, de nos entregar. Podemos fazer a experiência. Se apertarmos os músculos, franzirmos os olhos, cerrarmos os dentes e em seguida soltarmos, ficando relaxados, vamos sentir a diferença. O que é mais agradável, tensão ou relaxamento? Tentando segurar nosso parceiro e exigindo sua presença só conseguimos que ele se afaste cada vez mais de nós.
O casal, além de uma vida em comum, deve ter interesses individuais, cada um desenvolvendo seu potencial e sua criatividade. Isso enriquece a relação. Se um gosta de pintura e o outro de dança ou de matemática, pode ser enriquecedor trocar conhecimentos, informações. Quem tem interesses próprios não vai ficar exigindo a presença constante do outro, nem perder tempo fazendo críticas. Quando ficarem juntos, um vai colaborar para o enriquecimento cultural e psíquico do outro e não sobrará tempo para mesquinharias como “você sempre…” ou “você nunca…”
Sugiro aos casais que se amam que deixem o outro livre para ser quem realmente é. Quanto mais usar seu potencial, mais alegre e relaxado ficará. A vida fora de casa, no trabalho, já é difícil e estressante. O lar deve ser o lugar onde podemos deixar de lado as convenções, sabendo que nosso companheiro ou nossa companheira nos ama como somos, sem qualquer tipo de recriminação.

 

 

 

 

 

A Traição causa sofrimento aos três

A traição, que sempre afligiu casais, causa sofrimento aos três

Algumas pessoas não conseguem manter-se fiéis na relação amorosa. Seguem necessidades inconscientes — se não o fizessem, estariam traindo a si próprias. A situação não fica em brancas nuvens, pois um intui a vida oculta do parceiro e o outro vive dividido. O caminho é abrir o coração com franqueza. Pois não se é infiel a si ou ao outro impunemente.

Um tema trazido com freqüência aos consultórios é o da traição. Às vezes por quem trai e outras, muito mais, por quem é traído. Visto de qualquer lado, é sempre um assunto delicado.A palavra trair vem de entregar e traidor é o que entrega. Significa, portanto, entregar-se, mostrar aspectos seus normalmente ocultos. Ou entregar o outro.
Do ponto de vista analítico, quem trai o faz para não trair a si: tenta ser fiel aos seus desejos inconscientes, não aprovados pela sociedade. Na revista Veja de 19 de maio (páginas amarelas), a comunicóloga americana Laura Kipnis (47) contesta alguns dos conceitos mais sagrados da sociedade, como casamento, amor, monogamia, fidelidade. De modo algo pessimista, observa que é uma utopia procurarmos a felicidade no amor. E, assim como o dramaturgo e escritor pernambucano Nelson Rodrigues (1912-1980), ela acha que “a fidelidade deveria ser opcional, não obrigatória”.
Como se vê, a questão é difícil e polêmica. Embora à primeira vista não pareça, envolve sofrimento de ambos, porém de conteúdos diferentes: devemos seguir sempre o nosso desejo, o prazer, ou o transformarmos para ser fiéis a nossos votos e responsabilidades? Ao assistir a novelas como Celebridade, observamos a banalização do sexo e da traição.Trocar de parceiro, trair, mentir, é a tônica da novela. O triangulo amoroso é vivido sem culpa. Como uma diversão.
O casal de classe média que assiste à TV vive vicariamente as infidelidades e traições, e imagina que isso seria normal entre celebridades. As personagens mais lindas e ousadas trocam de parceiro sem nenhum escrúpulo, e quanto mais traem e mentem, mais sucesso conseguem.
Tudo isso deve tornar cada vez mais difícil às pessoas comuns decidirem o que seria ético em questões de amor. Pois existem pessoas que não agüentam trair seus sentimentos, renunciando à veracidade de sua alma. Para estas, a fidelidade à verdade interior é o único meio de viver. Sua sensibilidade interna é mais forte do que as pressões dos padrões sociais que dela divergem. Como não conseguem enfrentar os códigos coletivos, acabam traindo. Encontram um equilíbrio precário vivendo entre os dois pólos. Mas o ditado adverte: “Três, o diabo fez”. Equilibrar-se nessa balança é difícil a todos os participantes do triângulo.
Uma relação ideal deveria durar enquanto dura o amor e o desejo — numerosos casais são felizes e monogâmicos, e nunca sentiram necessidade de trair. Quanto à crença de que o homem trai mais por destino biológico, isso vem mudando desde que as mulheres se tornaram independentes. Aliás, já houve época em que a traição era considerada feminina — talvez porque traga maiores conseqüências, já que parece ser vivida com mais paixão. Vários romances, entre eles Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1821-1880) e O Amante de Lady Chaterley, de D.H. Lawrence (1885-1930), são histórias sobre grandes traições femininas.
O preço a pagar por essas transgressões, masculinas ou femininas, é pessoal e muito alto. Como já diz a canção “Quem trai se trai a si mesmo, no riso no abraço no beijo no olhar”. O traidor vive cindido, dividido. O traído, mesmo sem saber de nada, inconscientemente sente que é enganado. O terceiro lado do triângulo também sofre, se o envolvimento for profundo. Quanto ao casamento, fica sem trocas. O silencio substitui a conversa e as queixas contra o outro são constantes. Ambos assumem o papel de vítima e culpam o outro por sua infelicidade e insatisfação.
Muitas vezes uma conversa difícil pode recuperar o que já parecia acabado. Abrir o coração, contar as próprias fraquezas é uma prova de amor e de confiança que pode refazer a ligação, reaproximando o casal. Não há, entretanto, uma resposta para todos os casos ou solução que se generalize. Nossa vida não é uma novela e sempre há um preço a pagar quando não somos fiéis a nós mesmos.

 

Amor não tem idade


  Preconceitos em geral inibem as pessoas mais velhas e evitam que se apaixonem, namorem com o cônjuge ou encontrem um novo parceiro. Mas é ao atingir a maturidade, depois de muitas experiências, que o idoso domina as frustrações e melhor sabe aproveitar os momentos prazerosos. Idosos devem trabalhar, sair, viajar, dançar, namorar, se apaixonar, ter fantasias. Viver.

O amor, cedo ou tarde, é sempre o mesmo. O corpo pode mudar, mas não os sentimentos. Depois de muitas experiências e também de desilusões, a pessoa mais velha é capaz de amar com intensidade, mas sabendo lidar com as frustrações inerentes a qualquer relacionamento. Ao contrário dos jovens, torna-se menos exigente e sabe valorizar os bons momentos.

Existe um ditado que diz: “Se a juventude soubesse, e se a velhice pudesse.” Hoje, acho que a juventude ainda não sabe, porém a velhice pode. Cinqüenta sessenta ou setenta, até oitenta ou mais -tanto faz. Os exemplos estão por toda parte. Com uma vida saudável, somos iguais ou melhores depois da maturidade.

O terapeuta americano James Hillman (79), junguiano, escreveu em 1999 o livro “A força do caráter e a poética de uma vida longa”, no qual faz uma abordagem revolucionária sobre a terceira idade. No capítulo sobre o erotismo observa que, à medida que os poderes físicos decrescem, solta-se a imaginação que fica mais forte e extravagante.

Aceitamos com maior facilidade que um homem mais velho tenha vida sexual ativa; nossa reação costuma ser oposta quando se trata de mulher. Afinal, a tradição sugere que, após os sessenta anos, ela cuide dos netinhos ou tricote em casa. Nada contra tais atividades. Mas é perfeitamente possível ser uma avó amorosa, fazer trabalhos manuais (ou outros) e usufruir a presença do marido ou do companheiro, reservando momentos de intimidade para os dois. Viajar, sair para dançar, namorar, tudo está em aberto.Os que estão sem par, como Jack Nicholson e Diane Keaton no filme Alguém tem que Ceder, apaixonam-se com o mesmo entusiasmo que tinham aos vinte ou trinta anos.

No entanto, é comum pessoas mais velhas sentirem culpa por ter fantasias sexuais, ridículas por ainda pensarem em namoro, em encontrar alguém. Acham que precisam justificar-se. Mas homem e mulher necessitam do estímulo adequado e da presença de alguém que também sinta desejo. E, sem as fantasias e a imaginação, nem o Viagra funciona.

Atualmente vemos mães e pais de filhos adultos, casados ou sozinhos, que trabalham ou voltaram a estudar, como pessoas sem idade.No convívio com os mais jovens percebem que não são diferentes. Ao contrário, sua experiência de vida e entusiasmo ajudam a fazer amigos, e o prazer que sentem em participar de grupos de várias idades continua o mesmo. Não sentem necessidade de participar de grupos específicos, os chamados de terceira idade ou melhor idade.

Alguns, é verdade, têm de lutar contra a má vontade dos filhos, que prefeririam a mãe ou o pai em casa, ajudando com as crianças. Passam, então, a ter medo do ridículo. Falta-lhes coragem de viver um romance. Submetem-se: “Isso é coisa de jovem.” Posso garantir que não é terreno exclusivo da juventude. Sentimento não tem idade e é território da alma, que nunca envelhece.

Fomos criados com muitos preconceitos em relação à idade, principalmente as mulheres. “Não fica bem usar roupas coloridas”, ou “lugar de velho é em casa”, ouve-se. Ora, não devemos aceitar que outros determinem a nossa vida. Se quisermos ficar em casa, fazer tricô por prazer, é nosso direito. Mas ficar em casa sentindo-se só, à espera de que a vida passe para agradar aos outros, não faz sentido nenhum. Nossa imaginação continua livre. Podemos criar e concretizar nossos desejos. Na arte, no amor, na vida.

O poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), no poema Amor e seu Tempo, escreveu: “Amor é privilégio de maduros estendidos na mais estreita cama, que se torna a mais larga e mais relvosa, roçando, em cada poro, o céu do corpo.” E: “Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde.”

 

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